O sono e os seus processos fisiológicos: o que acontece no nosso corpo enquanto dormimos?

Data de publicação
22 july 2025

O sono é um processo dinâmico cuja principal função é proporcionar descanso neuronal após a intensa atividade a que os neurónios foram sujeitos durante a vigília. Além disso, o corpo desempenha uma série de funções vitais que contribuem para o equilíbrio físico, mental e emocional. Estas atividades são mecanismos cruciais para a reparação e regulação de vários sistemas do organismo.

Fases do sono

O sono é composto principalmente por duas fases:

1. Sono NREM (movimentos oculares não rápidos). Este é um dos estágios principais e compreende aproximadamente 75 a 80% do tempo total de sono. Divide-se em três subfases (N1, N2 e N3), cada uma com características fisiológicas específicas:

  • N1 (sono leve). Estádio de transição entre a vigília e o sono. Caracteriza-se pela diminuição da atividade muscular e cerebral. Representa aproximadamente 5% do tempo total de sono. 
  • N2 (sono intermédio). O corpo continua o processo de relaxamento muscular, e as frequências cardíaca e respiratória diminuem. Isto representa cerca de 50% do tempo total de sono. 
  • N3 (sono profundo). Este é o estágio mais restaurador, também conhecido como "sono de ondas lentas" ou "sono delta". A maioria dos processos de reparação física e imunológica ocorre aqui. Representa aproximadamente 15 a 25% do tempo total de sono. 

2. Sono REM. Caracteriza-se pelo aparecimento de movimentos oculares rápidos sob as pálpebras. É uma fase do sono caracterizada por paralisia muscular temporária (exceto dos músculos respiratórios e oculares), atividade cerebral intensa e uma série de processos fisiológicos específicos. A fase REM desempenha um papel crucial na consolidação das memórias, na regulação das emoções e na manutenção das funções cerebrais, ocupando 20 a 25% do tempo total de sono. 

Como é estruturado o nosso sonho?

Ao longo da noite, repetem-se aproximadamente 4 a 5 ciclos de sono, com uma duração aproximada de 90 minutos. Cada ciclo começa com um período de sono NREM e continua até ao fim do sono REM seguinte. A primeria metade da noite é dominada pelo sono NREM de ondas lentas (N3) e, à medida que a noite avança, os episódios de sono REM tornam-se progressivamente mais longos. 

Sueño y procesos fisiológicos

 Sono e processos fisiológicos / Imagem: The Sleep Foundation

 

Dormimos todos da mesma maneira?

Diversos estudos indicam que nem todos os indivíduos dormem da mesma forma. As necessidades de sono podem ser genéticas, enquanto os mecanismos fisiológicos são desconhecidos. Dependendo dos nossos hábitos de sono, podemos experimentar: 

  • Pessoas que dormem pouco: pessoas que necessitam de poucas horas de sono para se sentirem satisfeitas enquanto estão acordadas. Geralmente, necessitam de menos de 7 horas de sono por noite. 
  • Pessoas que dormem muito: pessoas que necessitam de mais horas de sono do que a média. Geralmente, dormem 9 a 10 horas por noite.
  • Pessoas que se deitam cedo: aquelas que precisam de dormir e acordar cedo. 
  • Dorminhocos "mochos": aqueles que gostam de ficar acordados até tarde e, por isso, precisam de acordar mais tarde manhã. 

Os ritmos biológicos de cada indivíduo determinam as diferenças no seu horário habitual de sono. As pessoas matutinas, ou cotovias, atingem o seu pico de alerta e desempenho antes do meio-dia, enquanto as corujas atingem o seu pico à tarde. 

Processos fisiológicos

Durante o sono, ocorrem alterações em várias funções fisiológicas:

A nível celular, especialmente na fase N3, o organismo liberta grandes quantidades de hormona de crescimento, essencial para a reparção dos tecidos, músculos e ossos. Além disso, as células eliminam os resíduos acumulados ao longo do dia para facilitar a regeneração e prevenir danos a longo prazo. 

Em relação ao sistema endócrino, durante a fase NREM, encontramos um pico de melatonina, conhecida como a hormona do sono. Ao mesmo tempo, os níveis de cortisol diminuem, o que ajuda a manter um estado de relaxamento e recuperação. A leptina e a grelina, hormonas que regulam a saciedade e o apetite, respetivamente, estão em equilíbrio e promovem uma sensação de plenitude gástrica ao acordar. 

Durante o sono, a função renal disminui e a urina é excretada em menor quantidade, tornando-se mais concentrada. Esta disminução da produção de urina permite um sono mais contínuo. 

Para o sistema imunitário, a fase N3 do sono NREM é de vital importância, uma vez que sofre uma maior ativação para combater as infeções por agentes patogénicos. A energia do corpo é aproveitada durante o período de descanso noturno para ativar as respostas imunitárias. Existem evidências de que o estado do sistema imunitário pode modificar a quantidade e a qualidade do sono. De facto, quando surge uma febre, precisamos de dormir. 

Por sua vez, durante a fase N3, o sistema cerebral, limpa e organiza toda a informação adquirida durante o dia. Elimina as ligações neurais desnecessárias e fortalece au úteis, promovendo assim a eficiência cerebral. No início da fase REM, o cérebro sofre uma ativação que permite a criação de sonhos e emoções complexos, o fortalecimento da memória a longo prazo e o processamento da aprendizagem emocional. Tudo isto se integra para contribuir para a estabilidade psicológica. 

No sistema músculo-esquelético, a maioria dos músculos fica completamente paralisada devido à inibição dos neurónios motores pelo sistema nervoso. Este fenómeno, conhecido como atonia, impede-nos de realizar ações físicas durante o sono. Tanto os músculos respiratórios como os que controlam os olhos permanecem ativos. 

Na sistema respiratório, uma característica é alteração do padrão ventilatório ao longo das diferentes fases do sono. Além disso, a resistência das vias aéreas superiores aumenta. Ambas as condições favorecem o aparecimento, em indivíduos com fatores predisponentes, de pertubações respiratórias, apneias ou hipopneias centrais e obstrutivas. 

Em relaçao à função cardiovascular, ocorrem variações significativas na frequência cardíaca e na pressão arterial durante o sono. Durante a fase NREM, encontrámos os valores mais baixos para ambas. Durante a fase REM, existirão flutuações nestes sinais vitais, tornando-a vulnerável a arritmias cardíacas. 

Por isso, um bom descanso é fundamental para o bom funcionamento de todos os nossos processos fisiológicos. Um sono adequado fortalecerá a nossa saúde e garantirá uma melhor qualidade de vida. 

 

Silvia Arribas, enfermeira na OXIGEN salud (número de registo 7230 na Escola Oficial de Enfermagem de Valladolid).

Fontes consultadas: Tratado de medicina do sueño, Editorial Médica Panamericana.

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